sábado, 10 de janeiro de 2009

A estatística

- Caio, você é muito frio.

É, talvez eu seja. Mas ficar sem intenet há quase duas semanas altera meu humor.

O que aconteceu foi o seguinte. No dia 28 de dezembro minha internet simplesmente caiu. Como eu viajaria no dia seguinte, não fui procurar o rapaz que a mantêm.
Quando cheguei dia 2 de janeiro, entrei em contato pra saber o que aconteceu com minha conexão e ele disse que resolveria logo.
Mas nos dias que sucederam eu mal parei em casa. Mas do meio dessa semana pra cá, eu precisei muito da internet e o cara ficou me enrolando.

Ontem à tarde eu estava em casa entediado. O tempo foi passando e a noite caindo. Comecei a ver “Eu, a patroa e as crianças” puto da vida, pois estava tocando funk e alto no bar em frente à minha casa. De repente o som para e, minutos depois eu ouço “pá, pá, pá, pá, pá”.
“Deve ser algum idiota estalando a moto.
Terminei de ver o programa e saí pra rua. Quando eu abro o portão, vejo o bar fechado, muita, mas muita gente mesmo na frente do meu portão e uma ambulância da Defesa Civil.
Encontro o meu pai e pergunto o que aconteceu.
“O Max matou o Perreca”.
“E minha internet, falou com o Carlos?”, perguntei.
“Falei com ele e ele disse que virá amanhã(hoje).”

Pasmem, meus caros. O próprio pai matou o seu primogênito.

Fui pro trailler de lanches de um amigo mas ele não estava lá. E minha rua enchendo cada vez mais.
É impressionante como as pessoas são fofoqueiras. Gente que eu nunca vi na minha vida, que nunca pisou na minha rua tava no meu portão olhando o corpo do pobre rapaz, que nessa altura já estava coberto.

Meu amigo, dono do trailler, chegou e pediu que eu o acompanhasse até a cena.
Fomos até lá, vimos e voltamos pro trailler.
“Não to acreditando nisso.”, disse ele.
“É, seu amigo virou estatística.” eu disse.
“Caio, você é muito frio.”

De fato, eu sou muito frio.

Mas saibam o que aconteceu, pelo menos as informações que chegaram aos meus ouvidos. Mas antes saibam que eu só conhecia o assassino de vista e a vítima por educação.
O Perreca, assim conhecido por todos(não sei o nome dele), colocou funk na máquina jukebox do bar. Só que o pai dele, Max, matador cuja fama é conhecida por todos, levantou-se e simplesmente desligou o máquina. O pobre menino Perreca foi tirar satisfação com o pai, falando coisas do tipo “você é dono do bar?”, “os incomodados que se mudem” e “você pensa que é muito homem, né?”.
Max levantou-se, novamente de sua cadeira, e foi pra casa. Um tempo depois, chegou ao bar de carro, adentrou o recinto e sapecou cinco tiros no próprio filho e disse “Isso é pra você saber quem é o ‘brabo’ daqui.”. Como se o pobre rapaz, já falecido, pudesse ouvir.

Mas uma coisa me chamou a atenção. Todos os crentes que eu conhecia estavam lamentando a morte do sujeito.
E eu vos pergunto, se Deus tem poder sobre nós, isso não significar que ele não tinha mais planos para a vida do menino Perreca? Ou quem sabe ele encurtou a existência do rapaz pra evitar que ele caísse no mundo dos crimes, como o pai?

Quando coisas desse tipo acontece ninguém se lembra dos ensinamentos do padre ou do pastor?

2 comentários:

  1. que historia bizarra. mesquita bomba!

    eu acho que independente do credo, há antes disso o certo e o errado, sei lá se alguém vai lembrar do ensinamento do padre ou pastor após/durante matar alguém... o importante é que tem gente em algum lugar que ouve e compreende/aceita isso ANTES de matar, às vezes até desiste disso.

    não é fácil do brasil de hoje ensinar o certo, mas pelo menos, por mais fdp que sejam os crentes, pq alguns sao ainda piores, eles não instigam seus fiés a matar.

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  2. Lendo isso, lembro d um dos temores q afligem as pessoas: a de ñ saber com quem está lidando. Qualquer discurssão banal termina em morte gratuita.
    E nem me arrisco a pensar numa motivação pra isso.

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